No campo da neurodiversidade, as palavras que escolhemos têm um peso imenso. Elas podem validar, estigmatizar, empoderar ou diminuir. Uma das discussões mais importantes e atuais é sobre o uso dos termos “pessoa autista” versus “pessoa com autismo”. Longe de ser um mero detalhe, essa escolha reflete uma profunda mudança de paradigma sobre como enxergamos o autismo: como uma condição a ser separada do indivíduo ou como parte indissociável de sua identidade. Compreender essa questão é um ato de respeito e um passo essencial para uma inclusão verdadeira.
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A Visão Tradicional: “Pessoa com Autismo”
Por muito tempo, a norma foi usar a “linguagem da pessoa em primeiro lugar” (person-first language). A intenção era positiva: enfatizar que a pessoa vem antes de qualquer condição ou diagnóstico. Dizer “pessoa com autismo” buscava reforçar a humanidade do indivíduo, separando-o de um transtorno que era visto como algo negativo. Essa abordagem foi importante em um contexto histórico em que a patologização era a única visão existente.
A Voz da Comunidade: “Pessoa Autista”
Com o fortalecimento global e nacional do movimento de autodefesa, a própria comunidade autista trouxe uma nova perspectiva. Hoje, a maioria dos autistas e suas organizações de referência defendem o uso da “linguagem da identidade em primeiro lugar” (identity-first language), ou seja, “pessoa autista” ou simplesmente “autista”.
O portal brasileiro O Autista, por exemplo, destaca que o autismo não é como uma doença da qual se pode separar. Não é um acessório, mas sim a própria constituição neurológica da pessoa, o que molda sua forma de perceber, sentir e interagir com o mundo.
Principais Argumentos para a Preferência de “Pessoa Autista”
- Identidade, Não Doença: O autismo é parte integral de quem a pessoa é. Dizer “pessoa com autismo” pode soar como se fosse uma doença externa, como “pessoa com gripe”. Ao dizer “pessoa autista”, afirma-se o autismo como uma característica central da identidade, assim como dizemos “pessoa brasileira” ou “pessoa alta”.
- Empoderamento: Adotar o termo preferido pela comunidade é um ato de validação. Respeita a autoafirmação e o direito do grupo de se nomear.
- Fim do Estigma: Usar “autista” com naturalidade ajuda a remover a carga negativa que a palavra carregou por tanto tempo. A apropriação do termo pela comunidade busca ressignificá-lo como um identificador neutro e positivo.
Conclusão: O Respeito Começa na Escuta
A melhor prática é sempre perguntar a preferência da própria pessoa. Contudo, como padrão de comunicação, ouvir e adotar a terminologia que a maioria da comunidade autista escolheu para si é o caminho mais respeitoso e alinhado aos princípios da inclusão. É reconhecer o autismo como parte da diversidade humana, não como um fardo.
A Clínica Formare se compromete com essa escuta ativa. Em nossa comunicação, priorizamos o uso de “pessoa autista”, em respeito ao movimento de autoafirmação e como parte de nossa missão de promover a autonomia e independência de forma digna e empoderadora.
Para aprofundar a reflexão sobre inclusão e respeito no contexto da neurodiversidade, conecte-se com a Clínica Formare no LinkedIn.