Navegando a seletividade alimentar no autismo

A hora da refeição para muitas famílias é um momento de partilha e nutrição. Mas, para famílias de pessoas autistas, essa hora pode frequentemente se transformar em um campo de batalha silencioso ou explícito, marcado pela recusa alimentar e pela angústia. A seletividade alimentar no autismo, assim como diversos transtornos alimentares, é um desafio real e complexo, que vai muito além de uma simples “frescura” ou preferência infantil. Compreender suas raízes e conhecer estratégias respeitosas para lidar com ela é fundamental não só para a nutrição, mas para o bem-estar e a qualidade de vida de toda a família. Este artigo busca oferecer um olhar acolhedor e orientações práticas para essa jornada.

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Por Que a Seletividade Alimentar é Comum no Autismo?

Antes de pensar em soluções, é crucial entender o porquê. A recusa ou extrema limitação na variedade de alimentos por pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) está frequentemente ligada a características inerentes ao próprio espectro:

  • Questões Sensoriais: texturas (pastosas, crocantes, granulosas), cheiros, cores, temperaturas ou aparência podem ser percebidos de forma intensa, gerando aversão ou desconforto.
  • Necessidade de Previsibilidade e Rigidez Cognitiva: a preferência por rotinas faz com que alimentos novos representem o imprevisível, gerando ansiedade e recusa.
  • Dificuldades Motoras Orais: desafios na mastigação ou deglutição podem levar à preferência por texturas mais fáceis de gerenciar.
  • Questões Comportamentais: rituais durante as refeições ou esquivas podem surgir como forma de lidar com a ansiedade.

O Impacto Além do Prato: Nutrição e Desenvolvimento

Uma dieta extremamente restrita pode levar a carências nutricionais em vitaminas e minerais (ferro, zinco, complexo B, D), afetando crescimento, imunidade, energia, concentração e humor. Além disso, a dinâmica estressante das refeições pode prejudicar a saúde mental de pais e cuidadores. É um ciclo que precisa ser abordado com informação e sensibilidade.

Estratégias Práticas e Respeitosas para Introduzir Novos Alimentos

Expandir o repertório alimentar de uma pessoa autista é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Exige paciência, persistência e, acima de tudo, respeito. Uma abordagem gradual pode tornar essa jornada mais leve e eficaz:

A Escalada do Comer: Um Passo de Cada Vez

Essa abordagem propõe uma introdução extremamente gradual, respeitando o tempo de cada pessoa. A ideia é progredir por etapas, sem pular nenhuma:

  1. Tolerar: ter o alimento no mesmo ambiente, depois no prato, sem reação negativa.
  2. Interagir: tocar o alimento com utensílios ou usá-lo em brincadeiras.
  3. Cheirar: sentir o aroma do alimento.
  4. Tocar: pegar o alimento com as mãos.
  5. Provar: levar à boca, mesmo que apenas para lamber ou morder e cuspir.
  6. Comer: mastigar e engolir pequenas quantidades.

Cada etapa pode levar dias ou semanas, e o avanço só ocorre quando a pessoa demonstra conforto. Celebrar cada pequeno progresso é fundamental!

Dicas Práticas para Começar

  • Comece Pequeno: ofereça uma quantidade minúscula do novo alimento ao lado de algo já conhecido.
  • Apresentação Variada: experimente diferentes texturas e formatos (cozido, assado, escondido em receitas).
  • Envolva no Preparo: convide a pessoa para ajudar a lavar, misturar ou escolher ingredientes.

A Importância do Olhar Profissional

Embora essas estratégias possam ser aplicadas em casa, é essencial contar com suporte especializado. Questões alimentares no TEA podem exigir avaliação de nutricionista, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e psicólogo, trabalhando de forma integrada.

Na Clínica Formare, entendemos que a alimentação envolve fatores sensoriais, motores e comportamentais. Nossa equipe interdisciplinar cria planos individualizados, respeitando o ritmo e as necessidades únicas de cada pessoa e sua família.

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