O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por desafios na comunicação, no comportamento e nas interações sociais. Mas o que muitas pessoas ainda não sabem é que existem diferentes níveis de autismo, também chamados clinicamente de níveis de suporte.
Entender essa classificação é importante, pois ajuda a garantir uma abordagem mais adequada, respeitosa e eficaz.
Neste artigo, você vai entender:
- O que são os níveis de autismo segundo o DSM-5 e a CID-11;
- Por que o termo “graus de autismo” está em desuso;
- As características dos níveis 1, 2 e 3 de suporte;
- Como o diagnóstico individualizado faz a diferença;
- E como apoiar cada pessoa de forma empática, sem estigmas.
O que são os níveis de autismo?
O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) trouxe uma mudança importante na forma como o autismo é classificado. Em vez de “autismo leve, moderado ou severo”, passou-se a adotar uma abordagem baseada nos níveis de suporte que a pessoa necessita. A CID-11, versão mais recente da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, também segue esse mesmo princípio.
Essa atualização valoriza a singularidade de cada pessoa autista, reconhecendo que o espectro é amplo e variável. Em vez de rotular, o objetivo é compreender quanto apoio cada pessoa precisa para se desenvolver com autonomia e qualidade de vida.
Mesmo com essa atualização, ainda é comum ouvir expressões como “grau leve de autismo”. No entanto, esse termo está em desuso clínico, pois não representa com precisão a complexidade do espectro. Ele pode levar a mal-entendidos, minimizar necessidades reais ou reforçar estigmas.
Classificação atual:
- Nível 1 de suporte: requer apoio;
- Nível 2 de suporte: requer apoio substancial;
- Nível 3 de suporte: requer apoio muito substancial.
Por que evitar o termo “graus de autismo”?
Embora o termo “grau leve” ainda esteja presente no discurso popular, ele não é mais utilizado nos critérios diagnósticos. Isso porque sugere erroneamente que existem formas “mais graves” ou “menos graves” de autismo, o que pode gerar:
- Invisibilização das dificuldades enfrentadas por autistas que aparentam ser “funcionais”;
- Redução da individualidade de cada pessoa;
- Falsas expectativas sobre a autonomia/independência ou capacidade da pessoa autista;
- Estigmatização e negligência de suporte adequado.
Substituir essa visão por uma abordagem que foca nas necessidades reais de suporte permite um cuidado mais empático, individualizado e livre de rótulos limitantes.
Características dos níveis de suporte
Cada nível de suporte aponta para o grau de ajuda necessário em áreas como comunicação, interação social, adaptação a mudanças e comportamentos repetitivos. A seguir, explicamos como cada nível pode se manifestar.
Nível 1: Requer apoio
- Dificuldade para iniciar ou manter interações sociais;
- Inflexibilidade em mudanças de rotina;
- Maior necessidade de previsibilidade;
- Preferência por atividades solitárias ou estruturadas.
Mesmo com boa autonomia/independência aparente, pessoas no nível 1 podem utilizar o masking (camuflagem comportamental) para se adequar a contextos sociais, o que gera ansiedade, exaustão e sofrimento psíquico invisível.
Saiba mais sobre o autismo nível 1.
Nível 2: Requer apoio substancial
- Dificuldades mais marcantes na comunicação verbal e não verbal;
- Hipersensibilidade sensorial (a sons, luzes, cheiros);
- Comportamentos repetitivos mais intensos;
- Necessidade de apoio frequente no dia a dia, na escola ou no trabalho.
Pessoas com esse nível de suporte também podem apresentar hiperfoco e enfrentam desafios significativos em ambientes com muitas demandas sociais ou sensoriais.
Nível 3: Requer apoio muito substancial
- Pouco ou nenhum uso da linguagem oral;
- Necessidade de suporte contínuo para alimentação, higiene, rotina;
- Comportamentos autoestimulatórios intensos (como balançar ou bater objetos);
- Uso frequente de comunicação alternativa (gestos, PECS ou tecnologias assistivas).
Pessoas com esse nível de suporte também podem ter comorbidades como deficiência intelectual, epilepsia ou distúrbios alimentares, exigindo um cuidado especializado e contínuo.
Cada pessoa autista é única
Níveis de suporte não são identidade. Eles apenas indicam a quantidade de apoio necessária em determinado momento e isso pode mudar ao longo da vida. O espectro autista não é linear, mas multidimensional, variando em linguagem, cognição, percepção sensorial e comportamento.
Conheça também os sinais de autismo, especialmente importantes para um diagnóstico precoce.
Apoio adequado faz toda a diferença
Independentemente do nível de suporte, é essencial garantir acesso a intervenções baseadas em evidências e apoio contínuo. Isso inclui:
- Terapias como psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional;
- Terapias integradas, baseadas em ABA;
- Acompanhamento com neurologistas e/ou psiquiatras;
- Adaptações na escola e no trabalho;
- Acolhimento familiar e respeito às diferenças;
- Ambientes preparados para necessidades sensoriais, de comunicação e ambientais;
- Intervenções personalizadas para o ensino de habilidades e redução de barreiras comportamentais, podendo envolver episódios de meltdown (crise) ou shutdown (desligamento), especialmente em contextos de sobrecarga emocional ou sensorial.
Saiba mais sobre Meltdown e Shutdown.
O diagnóstico não define a pessoa
A classificação por níveis de autismo, ou melhor, de níveis de suporte é uma ferramenta importante para garantir que cada pessoa receba o cuidado de que realmente precisa. Mas ela não define valor, potencial ou identidade.
Autismo não se trata de um “grau” ou “gravidade”, mas sim de uma forma singular de perceber, sentir e estar no mundo. Com empatia, informação e acolhimento, é possível construir uma sociedade mais inclusiva e justa.
Saiba mais em nosso artigo completo sobre autismo.
Fontes: