Estereotipias

Estereotipias

As estereotipias, também chamadas de stimming, são comportamentos repetitivos, rítmicos e muitas vezes automáticos como balançar o corpo, agitar as mãos, emitir sons ou repetir palavras. No Transtorno do Espectro Autista (TEA), esses comportamentos não devem ser vistos como “defeitos” a eliminar, mas como possíveis estratégias de autorregulação emocional e sensorial.

Dentro da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), avalia-se a função desses comportamentos muitos são “inofensivos” e cumprem um papel importante de auto regulação. A intervenção geralmente é indicada quando a estereotipia interfere de forma relevante na funcionalidade, aprendizagem, interações sociais, autonomia, independência ou oferece risco físico. O objetivo não é extinguir indiscriminadamente, mas avaliar a função e, se necessário, ensinar alternativas que preservem o conforto da pessoa, favoreçam sua participação nas atividades significativas e ampliem sua qualidade de vida.

O que são estereotipias? 

As estereotipias são comportamentos motores, vocais ou sensoriais repetitivos que acontecem com certa previsibilidade e regularidade. Elas fazem parte do critério diagnóstico do TEA segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais), mas também podem surgir em pessoas sem autismo, especialmente em situações de tédio, ansiedade ou sobrecarga sensorial.

No contexto do autismo, as estereotipias costumam ser:

  • Autoestimulantes: produzem uma sensação agradável, organizadora.
  • Calmantes: ajudam a reduzir o estresse ou regular emoções.
  • Estratégias de enfrentamento: facilitam a adaptação a ambientes sociais ou sensoriais difíceis.

Exemplos comuns de estereotipias

Estereotipias motoras

  • Agitar as mãos
  • Balançar o corpo para frente e para trás
  • Andar na ponta dos pés
  • Rodar objetos de forma repetida
  • Tapar ou esfregar os ouvidos mesmo sem som alto

Estereotipias verbais (ou vocais)

  • Ecolalia (repetição de palavras ou frases ouvidas anteriormente)
  • Sons guturais
  • Repetição de perguntas, mesmo já respondidas
  • Cantarolamentos contínuos

Estereotipias sensoriais

  • Passar os dedos por superfícies específicas
  • Olhar fixamente para luzes piscantes
  • Cheirar objetos repetidamente
  • Estimular a visão periférica com movimentos

Esses comportamentos podem ser mais ou menos intensos dependendo do momento, da fase do desenvolvimento ou do ambiente ao redor.

Estereotipias são um problema?

Não necessariamente. Muitas estereotipias são inofensivas e cumprem uma função importante para o bem-estar da pessoa. Só devem ser motivo de intervenção quando:

  • Interferem significativamente nas interações sociais ou no aprendizado
  • Colocam a pessoa em risco (como bater a cabeça, morder as mãos)
  • Impedem o engajamento em outras atividades importantes
  • Geram sofrimento para a própria pessoa

O foco não deve ser “eliminar” as estereotipias, mas entender suas funções, observar se há sofrimento envolvido e, se necessário, oferecer alternativas mais funcionais ou seguras.

Estereotipias são diferentes de tiques?

Sim, embora possam parecer semelhantes à primeira vista, estereotipias e tiques apresentam diferenças importantes em relação à origem, manifestação e controle. Entenda cada uma delas:

Idade de início: As estereotipias geralmente aparecem antes dos 3 anos de idade, enquanto os tiques costumam surgir entre os 5 e 7 anos.

Padrão dos movimentos: Estereotipias são movimentos rítmicos e padronizados, como balançar o corpo ou bater as mãos de forma repetitiva. Já os tiques são movimentos súbitos, rápidos e não ritmados, como piscar os olhos ou dar pequenos espasmos.

Controle voluntário: As estereotipias costumam ser voluntárias e, em muitos casos, têm uma função autorregulatória, ou seja, ajudam a pessoa a lidar com emoções, ansiedade ou estímulos sensoriais. Os tiques, por sua vez, são involuntários, embora algumas pessoas consigam suprimi-los por curtos períodos, o que pode gerar desconforto.

Grupos musculares envolvidos: Estereotipias geralmente envolvem movimentos amplos do corpo. Já os tiques afetam músculos mais específicos e isolados.

Causas e associação clínica: Estereotipias estão frequentemente associadas ao autismo, especialmente em momentos de sobrecarga sensorial ou emocional. Os tiques estão mais ligados a alterações neurológicas, como é o caso da Síndrome de Tourette.

Diagnóstico diferencial: Quando há dúvidas clínicas, é fundamental procurar um(a) neurologista ou psiquiatra infantil. Esses profissionais têm experiência em diferenciar os quadros e indicar a melhor abordagem para cada caso.

Quais são as causas das estereotipias?

As causas ainda não são totalmente compreendidas, mas sabe-se que as estereotipias estão ligadas a múltiplos fatores neurológicos, sensoriais e emocionais, como:

  • Alterações sensoriais
  • Hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos
  • Ansiedade ou frustração
  • Excesso de estímulos ambientais (luz, som, movimento)
  • Necessidade de previsibilidade e organização
  • Estímulo autorreforçador (o comportamento gera prazer ou alívio)

Muitas pessoas autistas relatam que as estereotipias ajudam a organizar o pensamento, a lidar com emoções intensas e até a manter o foco.

Como lidar com as estereotipias?

Lidar com estereotipias exige empatia, conhecimento e personalização. Cada pessoa é única, e o que é adequado para uma pode não ser para outra. Contar com uma equipe clínica qualificada, como terapeutas ocupacionais, analistas do comportamento, psicólogos e outros profissionais especializados é essencial para avaliar a função desses comportamentos e orientar intervenções seguras e individualizadas. Veja algumas orientações práticas:

  1. Observe antes de agir

Antes de intervir, observe:

  • Quando a estereotipia ocorre?
  • Em que contexto?
  • Qual a intensidade e frequência?
  • A pessoa parece se sentir melhor depois?

Essa análise ajuda a entender a função do comportamento e evita abordagens equivocadas.

  1. Avalie o impacto

Estereotipias são um problema apenas se causam sofrimento ou prejuízo significativo. Se a criança balança as mãos de forma tranquila, sem atrapalhar sua vida, isso pode ser deixado como está.

  1. Ofereça alternativas seguras

Quando necessário, pode-se introduzir:

  • Brinquedos sensoriais (como fidget toys)
  • Massagens, atividades motoras ou técnicas de relaxamento
  • Ambientes com menos estímulos sensoriais
  • Rotinas mais previsíveis

Jamais puna ou exponha alguém ao constrangimento por causa de suas estereotipias. Essas atitudes podem gerar sofrimento emocional, elevar a ansiedade e até reforçar o comportamento de maneira indesejada.

  1. Intervenção terapêutica

Uma equipe clínica interdisciplinar tem papel essencial ao:

  • Avaliar a função que as estereotipias exercem no dia a dia;
  • Auxiliar na redução de comportamentos que ofereçam risco ou prejudiquem atividades funcionais;
  • Desenvolver, junto à pessoa autista e sua família, alternativas de autorregulação mais seguras e eficazes.

Toda intervenção deve ser planejada de forma individualizada.

As estereotipias desaparecem com o tempo?

Algumas estereotipias tendem a diminuir ou mudar de forma com o tempo, conforme a criança se desenvolve e aprende novas formas de lidar com o ambiente.

No entanto, muitas vezes persistem na vida adulta, principalmente em momentos de estresse ou ansiedade. Em adultos autistas, é comum que certos stimmings (como balançar as pernas ou manipular objetos pequenos) sejam adaptados.

Mais importante do que eliminar esses comportamentos é aceitá-los como parte do perfil neurológico da pessoa, promovendo acolhimento e inclusão.

Estereotipias em adultos: ainda existem?

Sim. Adultos autistas frequentemente apresentam formas mais discretas ou adaptadas de estereotipias. Em vez de bater as mãos, por exemplo, podem manipular anéis, mexer no cabelo, roer unhas ou balançar discretamente os pés.

Com o tempo, muitos aprendem a controlar ou substituir esses comportamentos por alternativas mais socialmente aceitas, mas nem sempre há necessidade disso.

As estereotipias fazem parte da neurodiversidade humana. Em vez de serem vistas como falhas ou desvios, devem ser compreendidas como ferramentas de organização emocional e sensorial, muitas vezes indispensáveis para o bem-estar de quem está no espectro autista.

Intervir sem compreender a função das estereotipias pode gerar mais prejuízos do que benefícios. A abordagem mais ética e eficaz é observar com atenção, buscar orientação clínica especializada e oferecer apoio individualizado, sempre preservando a singularidade e a qualidade de vida de cada pessoa.

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