A importância desse movimento está no fato de que as pessoas com deficiência são historicamente marginalizadas, sub-representadas, tiradas do foco e subestimadas no mundo em que vivemos, mundo esse que nem sempre está preparado para lidar com as mais variadas cabeças e corpos.
Curar pessoas autistas seria como buscar uma cura para outras deficiências incuráveis. É claro que precisamos buscar a adaptação ambiental e a construção de respeito e dignidade para essas pessoas, além de ensinos que ajudem a criar e manter autonomia em tarefas de vida diária, mas isso não quer dizer que as intervenções planejam curar, normalizar ou acabar com o autismo. A partir dessa ética do movimento da neurodiversidade, temos que entender que o TEA, assim como outras diversidades, são partes inerentes das pessoas, e que mesmo que algumas características do TEA dificultem o bem-estar pessoal, profissional, ocupacional, relacional e diário, o TEA em si não é algo passível nem desejado de ser curado, mas sim manejado para melhor qualidade de vida.
O paradigma da neurodiversidade, em resumo, diz respeito ao fato de que existem diferentes pessoas com diferentes cérebros que, de acordo com Ortega (2008), têm diferentes conexões neurológicas as quais não delimitam superioridades ou inferioridades, mas sim apenas divergências. Dessa forma, como afirma o autor, a diversidade cerebral “trata-se de uma diferença humana que deve ser respeitada como outras diferenças” (Ortega, 2008 p.477). No entanto, como afirma Brilhante et al. (2021), ao mesmo tempo que o paradigma reconhece a condição cerebral neurodiversa, também reconhece o autismo como uma deficiência, devendo a pessoa autista ser considerada e ter seus direitos garantidos a partir do estatuto da pessoa com deficiência.
O movimento da neurodiversidade partiu, como afirma Ortega (2008), de movimentos políticos realizados por comunidades autistas, com a maioria de seus integrantes sendo anteriormente designados pelo CID-10 como “portadores da síndrome de Asperger”. Essas pessoas, que não se designam como pessoas com autismo, mas sim como pessoas autistas, afirmam que o autismo, assim como a cor de seus cabelos e a tonalidade de seus olhos, constitui quem são, logo, que o autismo não deveria ser visualizado como algo a ser curado, mas sim como algo a ser respeitado.
Assim como as bases históricas citadas, Ortega (2008) cita que o movimento vem crescendo na internet, a partir da criação de redes de apoio que exprimem a “cultura autista”. Tal cultura que se cria nas redes existe para reafirmar identidades autistas, servir como facilitadora do contato entre pessoas autistas, compartilhar conhecimentos, dicas e experiências, dentre outras conexões. Tal cultura cresceu tanto que, desde 2005, celebra-se no dia 18 de junho o “Dia do orgulho autista” (Autistic Pride day), criado para conscientizar que o autismo é uma característica a ser considerada na construção integral dos seres humanos, não uma doença a ser curada ou erradicada.
Conclusão
A discussão sobre a cura do autismo e o movimento da neurodiversidade é fundamental para construir uma sociedade mais inclusiva e respeitosa. Reconhecer o autismo como parte integral da identidade das pessoas autistas e promover a adaptação ambiental e a dignidade é o caminho para uma convivência mais justa e equilibrada.
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