Você já notou um cordão com girassóis, uma peça de quebra-cabeça colorida ou o símbolo do infinito em tons vibrantes sendo usado para representar o autismo? Esses elementos visuais têm ganhado espaço em campanhas, produtos, acessos preferenciais e materiais informativos, mas nem todos sabem o que realmente significam ou como surgiram.
No contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), os símbolos cumprem um papel muito maior do que o estético: ajudam a promover inclusão, visibilidade, empatia e o reconhecimento dos direitos das pessoas TEA.
Neste artigo, exploraremos os principais símbolos associados ao autismo, suas origens, significados e a forma como vêm sendo ressignificados pela própria comunidade autista. Entenda também como eles podem facilitar o acesso a serviços, o acolhimento em espaços públicos e a construção de uma sociedade mais consciente.
Qual é o papel dos símbolos na causa do autismo?
Para além da identidade visual, os símbolos do autismo funcionam como ferramentas de comunicação acessível. Muitos autistas possuem dificuldades de interação social ou barreiras na linguagem. Assim, um símbolo em uma placa, cordão, adesivo ou crachá pode fazer toda a diferença no modo como a sociedade reconhece e respeita suas necessidades.
Eles também têm valor afetivo e político: representam lutas por direitos, visibilidade e inclusão, não apenas para quem está no espectro, mas para toda a rede de apoio que envolve famílias, profissionais e instituições.
Os principais símbolos do autismo e seus significados
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A peça de quebra-cabeça
Criada em 1963 pela National Autistic Society, do Reino Unido, a peça de quebra-cabeça foi por muitos anos o símbolo mais associado ao autismo. Sua proposta original era representar a complexidade do transtorno e o enigma que o autismo representava para a ciência à época.
Com o tempo, no entanto, o quebra-cabeça passou a ser duramente criticado por pessoas autistas e movimentos pró-neurodiversidade. Muitos afirmam que o símbolo reforça a ideia de que há algo “faltando” ou “errado” com quem está no espectro, sugerindo que o autismo é um problema a ser resolvido.
Apesar de ainda estar presente em campanhas, cordões e placas de acessibilidade, sua aceitação vem diminuindo justamente por carregar estigmas que não representam a visão atual sobre o TEA.
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O símbolo do infinito colorido
O símbolo do infinito em arco-íris é hoje o mais aceito e valorizado pela comunidade autista. Ele representa a diversidade da neurodivergência e o reconhecimento de que cada pessoa autista é única em seu modo de sentir, pensar e se expressar.
Essa imagem, criada por ativistas e pessoas no espectro, vem sendo adotada como alternativa ao quebra-cabeça. Ao invés de sugerir algo a ser decifrado, o infinito colorido celebra a pluralidade de experiências dentro do espectro.
Também é comum encontrá-lo na cor dourada, um trocadilho com o símbolo químico do ouro (Au), que remete ao orgulho autista (Autistic Pride). Essa versão tem ganhado força, especialmente nas redes sociais, como representação da autoestima e do valor das pessoas neurodivergentes.
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O cordão de girassol
Apesar de não ser exclusivo do autismo, o cordão de girassol é amplamente usado para identificar pessoas com deficiências ocultas — aquelas que não são visíveis, como o próprio TEA.
Ele surgiu no Reino Unido como uma forma discreta e respeitosa de sinalizar a necessidade de apoio, paciência ou compreensão em ambientes públicos. Hoje, é adotado em aeroportos, escolas, hospitais, supermercados e eventos.
Muitas vezes, o cordão de girassol aparece combinado com o símbolo do quebra-cabeça ou do infinito, reforçando a visibilidade e o respeito à neurodiversidade.
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A fita do autismo (fita do quebra-cabeça)
Inspirada em outras campanhas de saúde pública, a fita com peças de quebra-cabeça coloridas foi lançada em 1999 como um símbolo de alerta e conscientização sobre o autismo.
Ela tenta representar a multiplicidade de características e perfis dentro do espectro, com cores vibrantes sugerindo criatividade, energia e inclusão. Porém, por carregar o quebra-cabeça em sua essência, também passou a ser questionada quanto ao seu real impacto.
Atualmente, muitos preferem substituir a fita por variações mais inclusivas, como o laço com o símbolo do infinito ou o próprio cordão de girassol.
E quanto à cor azul?
A cor azul foi amplamente promovida pela campanha “Light It Up Blue”, lançada pela organização Autism Speaks em 2007. A ideia era iluminar monumentos e prédios públicos com luz azul no Dia Mundial de Conscientização do Autismo (2 de abril).
A escolha do azul se baseava na estatística de que o autismo era mais diagnosticado em meninos. No entanto, essa cor também passou a ser questionada, já que reforça uma visão masculina e invisibiliza meninas e mulheres autistas, frequentemente subdiagnosticadas ou mal compreendidas.
Por isso, movimentos recentes vêm propondo o uso do vermelho, do dourado ou das cores do arco-íris como opções mais representativas.
Quais são as figuras do autismo?
Embora ainda não exista uma figura (emoji)oficial que represente o Transtorno do Espectro Autista, algumas figuras são amplamente utilizadas pela comunidade neurodivergente para simbolizar o autismo em postagens e campanhas digitais:
- ♾️ Símbolo do infinito: usado para representar a neurodiversidade e a pluralidade de experiências dentro do espectro;
- 🌈 Arco-íris: associado à diversidade, inclusão e orgulho autista;
- 🔍 Lupa: muito usada durante o mês da conscientização do autismo (abril), como forma de chamar atenção para a causa;
Esses emojis/figuras são uma forma rápida e acessível de sinalizar apoio, facilitar a identificação e promover a inclusão também no ambiente digital.
O uso dos símbolos no dia a dia
A presença dos símbolos do autismo em locais públicos tem um impacto direto no acesso a direitos. Supermercados, bancos, farmácias, aeroportos e órgãos públicos estão cada vez mais usando placas e sinalizações com esses ícones para indicar prioridade de atendimento e acolhimento diferenciado para pessoas com TEA.
Pais, responsáveis e pessoas autistas devem estar atentos a esses sinais e carregar documentos como a Carteira de Identificação da Pessoa com TEA (CIPTEA). Itens como pulseiras, adesivos, crachás e cordões também podem ser úteis em situações que exigem comunicação não verbal.
Mais do que estética, esses símbolos são ferramentas práticas de cidadania, empatia e inclusão.
Conclusão: um símbolo pode mudar a forma como a sociedade enxerga o autismo
Assim como a linguagem evolui, os símbolos também mudam com o tempo. Hoje, o símbolo mais acolhido pela comunidade autista é o infinito colorido, que expressa o orgulho, o respeito e a diversidade do espectro. Mas isso não significa que os demais símbolos não tenham seu lugar — o importante é compreender o que cada um representa e por que alguns já não são mais bem-vistos por quem vive o autismo todos os dias.
Adotar símbolos inclusivos, ouvir pessoas autistas e promover representações respeitosas são atitudes fundamentais para que o autismo seja reconhecido não como um enigma a ser resolvido, mas como uma forma válida e valiosa de existir.